Iniciado em 2018, o curso de Engenharia Urbana da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), primeiro a ser oferecido no país em nível de graduação, diplomou seus primeiros concluintes. No percurso, professores e alunos enfrentaram diversos desafios, como a pandemia e outros relacionados à própria novidade do curso, incluindo a insegurança em relação ao mercado de trabalho.
Por tratar-se de um curso novo, a área de atuação e a importância desse profissional ainda são pouco conhecidas. A coordenadora do Departamento de Engenharia Urbana, Aline de Araújo Nunes, conta que se surpreendeu com a magnitude do curso, mas, à medida que a matriz curricular foi sendo construída, pôde perceber a importância dessa formação. "Quando ingressei no Departamento de Engenharia Urbana, ainda não tinha a real noção de como o curso viria a atingir uma área deficiente e importante das cidades. E à medida que fomos construindo o departamento e fazendo as adequações, tivemos a real noção da amplitude e magnitude das ações que essa engenharia vai promover, considerando os diversos desafios da cidades", relata.
O curso de Engenharia Urbana se concentra na construção e manutenção de sistemas e infraestruturas urbanas com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Esses sistemas incluem, mas não se restringem, às redes de transporte e mobilidade, redes de água e saneamento, sistemas de gestão de resíduos, sistemas de energia e telecomunicações. Assim, a matriz curricular do curso busca trabalhar a integração dos diferentes sistemas. "Hoje, o que mais vemos são profissionais que atuam nas áreas urbanas com uma visão pontual da sua formação. E nós queremos profissionais que tenham visão integrada, que tenham em mente a importância de conceber os sistemas geológicos e geotécnicos, de águas, de mobilidade e transporte como um único sistema", acrescenta Aline, complementando que, no curso, essa integração ocorre por meio do desenvolvimento de projetos interdisciplinares nas disciplinas.
Ana Luiza Silva Santos Felix, engenheira urbana e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio ambiente e Recursos Hídricos da UFMG, conta que conheceu o curso durante a Mostra de Profissões realizada pela UFOP. "Sempre achei fundamental a temática do saneamento, da mobilidade urbana, do planejamento territorial e tantas outras abordagens do curso que são possíveis de serem observadas no dia a dia das cidades. Me vi com a oportunidade de iniciar esse novo desafio, me formar na primeira turma de graduação de Engenharia Urbana do país", revela.
Para Mateus Gonçalves, também engenheiro urbano formado pela UFOP, os professores foram importantes para que o curso prosseguisse durante a pandemia, e ressaltou o desafio que foi se distanciar da comunidade acadêmica nesse período. "Os professores foram muito abertos e empenhados na construção das atividades, o que contribuiu muito para o aprendizado e o andamento das disciplinas. A distância da Universidade foi o maior desafio, tanto pelas vivências com os demais colegas quanto pelo acesso presencial aos professores e atividades. Concomitantemente, vivíamos muitas incertezas acerca da pandemia, todas as realidades dos alunos vieram para a sala de aula, mudaram-se totalmente os esquemas de estudo e trocas", relembrou.
PANDEMIA - Com a chegada da pandemia, o curso ainda estava em fase inicial e precisou se adaptar ao contexto digital. Para a coordenadora, os desafios foram grandes, pois a turma estava na fase profissionalizante do curso. "O 20.1 era a primeira turma entrando no 5º período, a fase profissionalizante, e já na primeira vez, tivemos que adaptar para as ferramentas remotas. Os professores e técnicos se mobilizaram para realizar os experimentos nos laboratórios da Universidade, e com a nossa infraestrutura foi possível trabalhar o conhecimento com os estudantes", conta a coordenadora.
Finalizar o curso significa uma vitória para Ana Luiza Felix. "Eu sou a primeira mulher engenheira na minha família. Sempre tive o incentivo da minha mãe para, desde que estudasse, ser o que eu quisesse — o que foi fundamental. Sinto que todo o esforço dela para me manter na universidade valeu muito a pena. Penso que a minha formação é um fato importante porque mostra que pessoas como eu podem também ocupar lugares como a engenharia", ressalta. Para Mateus Gonçalves, a sensação é de "dever cumprido" e de gratidão pelo desempenho dos professores fundadores e por ter feito parte dessa construção.
Recentemente, o curso foi reconhecido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia e pelo Ministério da Educação. Conforme a coordenadora, a incerteza em relação ao reconhecimento, juntamente com a pandemia, gerou uma queda no número de estudantes, situação que já começa a ser revertida, já que o mercado tem recebido os novos engenheiros de forma positiva. "A gente espera que essa queda diminua, uma vez que os alunos vão começar a ouvir sobre o nosso curso lá fora e ter exemplos de ex-alunos que estão sendo bem recebidos no mercado". Com entusiasmo, a professora acrescenta que muitos dos estudantes, mesmo em fase de estágio, já foram contratados por empresas da região.